Foto: Janio Seeger (Especial)
O fechamento da Rua Sete de Setembro, determinado pela Justiça, gera revolta de moradores, comerciantes e empresários da rua que carrega, nas estruturas de casas e estabelecimentos antigos, um pouco da história de Santa Maria. Na quarta-feira, a prefeitura foi intimada a fechar o cruzamento que fica no Bairro Perpétuo Socorro até o dia 13 deste mês. Com toda a repercussão pela decisão judicial, a prefeitura de Santa Maria convocou uma coletiva de imprensa para tratar do assunto, que foi realizada às 9h quinta-feira, no Centro Administrativo. Os moradores vão organizar uma manifestação às 18h desta tarde na Rua Sete de Setembro.
Entretanto, desde que ficaram sabendo da intimação judicial, os moradores da Região Norte da cidade já começaram a organizar uma mobilização contra o fechamento da via. Além disso, eles afirmam que vão recorrer da decisão. A reportagem esteve no local para conversar com alguns dos moradores. Há 36 anos, Léo Retzlaff reside na Região Norte. Ele diz não concordar com a decisão.
- É um absurdo, é um impacto para toda a comunidade. Vai se criar um beco para traficantes e ladrões, sem contar o grande número de veículos e pedestres que passam ali diariamente. Além disso, vai congestionar as outras ruas entorno. Talvez a cancela seja uma boa opção, resolveria o problema - lamenta Léo.
Laudir Valdir Milbratt Júnior, 32 anos, administra uma lavanderia na rua junto com o pai. O negócio está na família há quase 30 anos e o impacto da decisão preocupa.
- Acompanhamos desde o início e todos têm a mesma preocupação, da rua virar um beco. Eu fiz o cálculo e teríamos um deslocamento adicional de 36 quilômetros por dia, fora que fica muito ruim para o cliente ter o acesso - comenta Júnior.
A aposentada Alcemira Maria da Silva Araújo, 74 anos, nasceu na Rua Sete e hoje administra o Hotel Gabriel, herança de seu pai. A estrutura, que passou pelas mãos de outros donos, existe desde 1904.
- Nossa região se tornou esquecida pelo poder público, as pessoas nunca foram consultadas e hoje nos deparamos com uma situação bastante grave. Querem fechar uma rua que, sim, é velha e antiga, mas é recheada de histórias. Eu fico bastante preocupada, porque sinto que falta administração dos nossos políticos. Por que temos que isolar uma rua histórica? E como fica a população dessa região? Somos a cidade cultura e não temos consciência do patrimônio que estamos perdendo - lamenta.
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Outro que está indignado com a decisão é Antônio Palharini, o Peninha. Ele é dono do posto de combustível que fica na esquina com a Rua Marechal Deodoro há 15 anos. Segundo ele, os moradores da região vão recorrer ao Executivo e Legislativo ainda hoje para tentar evitar o fechamento da via.
- Estamos revoltados, isso aí não existe, não foi feita consulta popular, ninguém ouviu o povo que mora aqui, quem são eles para tomarem decisões por nós sem nos consultar? Isso é revoltante. A sociedade tem que tomar algum tipo de atitude. 60% do movimento aqui no posto seria afetado. Nós queremos uma solução, se precisar ir a Brasília a gente vai - comentou.
O casal de empresários Eliane Silveira Recart, 55 anos, e Marco Aurélio Recart, 55, moram há 40 anos na Rua Sete. Hoje, eles possuem um restaurante no local.
- A gente vai ser bastante prejudicado, pois não teremos mais fluxo de carros, como vamos sobreviver? Esse acordo prejudica muitas pessoas, a gente quer tentar entrar com uma liminar para tentar resolver a questão, mas ainda não temos advogado que nos represente - disse Eliane.
A DECISÃO
O impasse do fechamento da Rua Sete de Setembro voltou à tona depois que a Justiça intimou a prefeitura a fechar o cruzamento até o dia 13 de janeiro. Quando tomou conhecimento sobre o convênio firmado pela gestão de Valdeci Oliveira (PT) para a construção do túnel no final da Avenida Rio Branco, a antiga administração de Cezar Schirmer tentou reverter a situação para que o local não fosse interrompido.
A atual gestão também vem buscando alternativas para tentar evitar ou pelo menos amenizar o bloqueio. O prefeito Jorge Pozzobom está em Brasilia tentando negociar a situação junto ao Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). Tão logo ficou sabendo da ação judicial, a atual administração tentou diminuir o impacto e realizou intervenções no trânsito do local. As linhas que passam pelo trecho sofreram alterações, e a Rua Borges do Canto passou a ter sentido único desde a última semana.
Em julho do ano passado, a prefeitura de Santa Maria pagou R$ 638 mil ao Dnit para evitar que o trânsito fosse fechado na Rua Sete de Setembro. O valor foi definido depois que a prefeitura conseguiu negociar uma forma de evitar o trancamento da rua, que era indenizar o órgão federal pelo descumprimento do contrato para construção do viaduto da Gare. A obra previa a construção da passagem de veículos embaixo dos trilhos e também a construção de um muro para impedir o trânsito na Rua Sete de Setembro.
O QUE DIZEM
Ainda na tarde de ontem, o Diário entrou com contato com as assessorias do Dnit e da Rumo Logística, responsável pela ferrovia, sobre a decisão de fechar o cruzamento ferroviário da Rua Sete de Setembro. Por meio de nota, a Rumo Logística informou que é favorável ao fechamento da rua e que a decisão cumpre o acordo que já havia sido firmado entre o Dnit e a prefeitura. Leia a íntegra da nota:
"A concessionária é favorável ao fechamento da passagem em nível na rua Sete de Setembro. A decisão judicial cumpre o acordo firmado entre Dnit e a prefeitura referente ao viaduto construído há menos de 100 metros na Avenida Rio Branco, obra feita justamente para mitigar o conflito na região e aumentar a segurança da comunidade. O município de Santa Maria integra o principal corredor ferroviário do Estado. A operação funciona 24 horas, com uma média de circulação diária de três trens.
Rumo Logística"
Já o Dnit informou que ainda não havia sido notificado judicialmente acerca da decisão. O órgão ainda disse que irá aguardar as tratativas judiciais ocorrerem para poder emitir uma nota oficial.